Introdução: a força do concreto em tempos conturbados
A partir da década de 1960, o Brasil viu florescer o brutalismo, estilo arquitetônico marcado pelo uso escancarado do concreto armado. Inspirado pelo movimento nascido na Europa e difundido por arquitetos como Le Corbusier, o estilo encontrou solo fértil no país, onde a construção de grandes edifícios públicos e instituições sociais coincidiu com um clima político de grande intervenção estatal. O resultado foi um conjunto de obras que buscavam expressar força democrática, honestidade estrutural e identidade própria e contemporânea.
Características do brutalismo brasileiro
Ao contrário de estilos anteriores, como o modernismo carioca ou o racionalismo europeu, o brutalismo não tentava ocultar suas estruturas. O concreto era deixado à vista e os volumes brutos eram valorizados. Fachadas com formas maciças, vigas e lajes visíveis, grandes planos inclinados, janelas embutidas em concreto — tudo contribuía para um visual imponente. Nesse sentido, o estilo entregava sentimento de solidez e autenticidade, sem adereços supérfluos.
Principais protagonistas nacionais
Dentre os principais expoentes do brutalismo no Brasil estão Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Eduardo de Almeida, Jereissati e Ruy Ohtake, além de nomes emergentes ligados às instituições públicas. Cada um trouxe contribuições originais, adaptando o brutalismo ao clima, ao social e aos aspectos regionais brasileiros.
Lina Bo Bardi, por exemplo, projetou o SESC Pompéia, em São Paulo, um gigantesco centro cultural-industrial construído em uma antiga fábrica. O complexo destaca pavilhões, rampas e escadarias que constroem um diálogo entre o concreto e o espaço público. Já Paulo Mendes da Rocha ganhou notoriedade com obras como o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo, e sua residência unifamiliar, demonstrando que o brutalismo também se adaptava a projetos menores e com forte diálogo com o entorno.
Centros públicos e a estética cidadã
O estilo se fortaleceu em equipamentos públicos — teatros, museus, bibliotecas e centros de convenções — cuja arquitetura seria símbolo de projeção cultural e de inclusão social. O brutalismo assumiu uma face democrática: o concreto exposto servia como bandeira de modernidade acessível ao povo, sem ostentação e com clareza. Nesse sentido, seu caráter autoral era substituído por um sentimento de espaço público voltado ao coletivo.
Imperfeições e desafios técnicos
Contudo, a aposta no concreto núvem apresentações o desafio de manutenção. O concreto aparente envelhece com manchas, fissuras e ações climáticas que exigem manutenção contínua: impermeabilização, reparo em juntas, recuperação de formas com formas de madeira restauradas. A ausência de revestimento acelerou o desgaste visual. Muitas edificações enfrentam custos altos para sua revitalização, o que colocou obras brutalistas em risco décadas após sua construção.
Contribuições ao urbanismo contemporâneo
O brutalismo impulsionou o desenvolvimento de técnicas construtivas avançadas, com concreto armado e formas experimentais. Esses conhecimentos evoluíram para o pós-modernismo e o contemporâneo, influenciando expressões arquitetônicas muito além de suas décadas iniciais. A valorização de materiais nus, da estrutura aparente e da integração com espaços públicos redefiniu a postura de generosidade urbana no Brasil.
Diversidade de aplicações do estilo
O brutalismo conviveu com outros estilos e construiu obras em diversos escalões sociais: desde edifícios públicos gigantescos até bibliotecas de bairro, escolas e quadras esportivas. Mesmo em obras modestas, já era possível encontrar elementos como vigas aparentes, fachadas de concreto texturizado e volumes marcantes. A linguagem brutalista desapareceu nos anos 1980, mas seu legado permanece presente em diversos projetos.
Legado e reconhecimento atual
Hoje, muitas obras brutalistas são reconhecidas como patrimônio cultural moderno e insubstituível. Propostas de tombamento e proteção foram apresentadas com o objetivo de evitar demolições em nome da especulação urbana. É salientada a importância de entender a estética como parte da identidade brasileira, não apenas pelo visual imponente, mas pelo seu projeto social.
Conclusão: do concreto ao futuro sustentável
O brutalismo brasileiro após 1960 representou muito mais que uma estética: foi uma afirmação arquitetônica de força, presença e honestidade. O concreto exposto ganhou vida própria nas esquinas urbanas, provando que era possível traduzir modernidade em forma simples e direta. Mesmo com desafios técnicos e desgaste, seu legado permanece vivo, influenciando profissionais contemporâneos que buscam uma estética funcional, durável e alinhada às demandas sociais e climáticas. Nesse sentido, o brutalismo ajudou a consolidar no Brasil uma arquitetura que abraça a autenticidade do material, a solidez estrutural e a conexão espacial com o cidadão.